sexta-feira, 11 de julho de 2008

A NOVA ORDEM PETROLÍFERA


O artigo abaixo, casou-me espanto, tanto pela realidade um tanto provável, quanto pela possível chance de a humanidade tomar um caminho mais fraterno para a resolução dos seus problemas.

Tenho comigo, que com o fim do capitalismo o Brasil pode se transformar numa nova Roma, ditando uma ordem mundial mais humanista.

Leiam com atenção, e tirem suas conclusões.

(por Nicolas van der Leek)
Quando o petróleo atingir os 150 dólares por barril, os americanos passarão a gastar em energia cerca de 12 por cento das suas receitas.
Há quem pense que este valor corresponde a um pico máximo. Talvez. Mas, quer esse pico se situe nos 150 dólares ou não, podemos começar desde já a imaginar as mudanças que irão ocorrer.
Globalização às avessas
O mundo orgulha-se dos seus progressos. Conseguimos produzir grandes quantidades de alimentos, e transportar bens e pessoas por todo o mundo sem grande dificuldade.
Tem vindo a ser um mundo de eleição até agora, com a supressão de barreiras que permite as trocas e o comércio mundial. Tem sido possível movimentar pessoas e produtos por todo o mundo praticamente sem grande dificuldade.
Todas estas mesmas facilidades também funcionam eficazmente em sentido contrário – ou seja, regridem rapidamente. Um exemplo de um "mecanismo eficaz" na nossa vida, especialmente nos subúrbios, é a eletricidade. A eletricidade permite-nos cozinhar rapidamente as refeições, secar o cabelo e aquecer a água do banho mas, se faltar, o colapso é muito rápido.
O mesmo acontece quanto à facilidade de irmos de carro até ao supermercado para nos abastecermos de tudo o que precisamos. Quando deixarmos de poder fazer isso, os subúrbios passam a ser disfuncionais, e na Nova Ordem Petrolífera os Subúrbios Disfuncionais são inevitáveis – tal como as viagens aéreas, e muitas outras coisas.
O mundo está a deixar de estar plano
Ainda há pouco tempo o colunista da moda do New York Times, Thomas L. Friedman, escreveu o livro The World Is Flat (O mundo é plano). O livro de Friedman representa hoje um manual sobre o que vai desaparecer mais depressa. Se lermos o livro com espírito crítico, compreendemos que a premissa, embora não expressa, para quase todas as forças de aplainamento é a energia barata.
Atualmente, muitas das empresas que Friedman cita como bem sucedidas estão em vias de se desmantelar e desaparecer. Algumas das mais saudáveis empresas mundiais vão desaparecer do Fortune 500 dentro de meses, ou mesmo semanas, para nunca mais serem vistas. O McDonald's e a Coca-Cola são apenas dois exemplos disso.
E à medida que este processo for ganhando velocidade, o mundo tornar-se-á inevitavelmente num lugar muito maior, e será difícil funcionar com a facilidade e o à vontade a que nos habituamos…
Digam adeus
As primeiras vítimas dos altos preços do petróleo são as grandes faixas de pobres, principalmente de pobres rurais. Podem desaparecer por algum tempo dos canais do comércio (principalmente o da indústria informal) mas voltarão a aparecer nas cidades sob a forma de milícias maciças desordenadas e desesperadas.
Entretanto, a indústria pode começar por se despedir definitivamente da indústria da aviação. As maiores empresas talvez sobrevivam durante mais tempo, e a última a funcionar será talvez a Singapore Airlines, com o seu gigantesco Airbus A380. As companhias aéreas do Médio Oriente, como a Qatar Airways, também poderão manter-se em funcionamento mais uma ou duas temporadas. As futuras viagens aéreas serão reservadas para uma pequena elite, e as companhias de aviação, tal como as conhecemos, vão deixar de funcionar, pura e simplesmente. Até agora já foram à falência mais de uma dúzia de companhias de aviação internacionais, só nos primeiros 6 meses de 2008, incluindo:
A Airblue (Paquistão), a City Star Airways (UK), a Frontier Airlines (EUA), a Nationwide Airlines (África do Sul), a Palestinian Airlines (Egipto), a Tavrey Airlines (Ucrânia), a Jet4you (Marrocos), a Euromanx (Ilha de Man), a Aeropostal (Venezuela) e a Silverjet (UK), entre outras.
Os grandes silos que são hoje os edifícios dos aeroportos, dentro de cinco anos podem estar transformados em museus da arte da tecnologia.
Digam adeus também aos serviços que dependem dos transportes aéreos, como as empresas de correio. Ou seja, as FedEx e as UPS. Digam adeus também à Amazon.com e congêneres.
As operações em escala gigantesca – desde as viagens aéreas, à agricultura, à indústria (pensem na General Motors) – serão reduzidas drasticamente.
Isto implica uma implosão no turismo mundial, o que significa que espetáculos mundiais como a Taça do Mundo da FIFA e as Olimpíadas de 2012 vão ficar fora do alcance de 90 por cento dos consumidores.
Isto também vai ter impacto em todos os serviços que se alimentam do turismo internacional – cadeias inteiras de hotéis, empresas de aluguer de automóveis, restaurantes e afins.
Os supermercados como o Wal-Mart (EUA), o Carrefour (França), o Pick'n Pay (Africa do Sul), o Tesco (UK) e muitos outros começarão por sentir a falta de artigos de bens não convencionais, e a seguir progressivamente de artigos básicos, incluindo a fruta e os vegetais. Estes mercados escorraçaram em tempos os mercados locais, arruinando muitas mercearias e indústrias agrícolas locais. Estas actividades locais estão em vias de renascer e, à medida que voltarem a aparecer, estes mercados locais mais pequenos substituirão os supermercados.
O fim das operações no exterior e das cadeias de abastecimento
As empresas multinacionais vão perder rapidamente a possibilidade de utilizar mão-de-obra estrangeira, e de o fazer de forma barata. Mais uma vez, o comércio voltará a ser mais localizado. Isto significa que, se no nosso país não se construírem computadores, por exemplo, estes equipamentos atingirão preços tais que ficarão fora de mercado.
A indústria eletrônica vai seguir a mesma via das companhias de aviação. Podem sobreviver alguns equipamentos genéricos; alguns dos modelos mais baratos e mais úteis terão melhores condições de sobrevivência do que os modelos mais complexos e de origem mais remota. Nos países em que os custos da Internet não sejam mínimos, a utilização da Internet cairá drasticamente.
Os meios de comunicação ficarão reduzidos, desde o número de canais da TV, e do número de jornais distribuídos na mesma área, até ao número de revistas nos escaparates. Mas os blogs continuarão a aparecer, embora mais funcionais e orientados para a comunidade. Nalguns países – dependendo de há quanto tempo dispõem de infra-estruturas de Internet – os jornais desaparecerão totalmente sendo substituídos pela informação via Internet. Noutros países, principalmente onde a Internet é ainda uma indústria jovem, os jornais reclamarão todo o terreno perdido e a Internet pode vir a desaparecer.
Haverá cada vez mais pessoas a alugar, a ficar sem os seus carros e até mesmo sem os seus tele-móveis. O número dos pobres urbanos subirá a níveis alarmantes. Tudo isto representa o fim da escolha sem limites.
O reaparecimento das oficinas de reparações
Não mais poderemos permitir-nos a nossa cultura de desperdício. Se qualquer coisa se avariar, teremos que arranjar alguém – técnicos – que a conserte. As fianças e as garantias deixarão de ter qualquer valor.
As pessoas terão que voltar a aprender técnicas – não só como consertar coisas, mas também como fabricar coisas. Quando os tampos das sanitas, ou as canas de pesca, ou pilhas de roupas deixarem de chegar em contentores às cidades costeiras, as indústrias locais terão que preencher esse vazio. Vai levar tempo e não vai ser fácil. As pessoas mais velhas (com aptidões) tornar-se-ão as novas celebridades.
O fim do capitalismo
Iremos assistir ao colapso do mercado de ações quando se perceber (nos mercados) não só que o crescimento econômico deixou de ter qualquer lógica, mas também que a escassez de energia acarreta o colapso de toda a arquitetura financeira que foi concebida assente nela – desde os mercados imobiliários, aos bancos, a indústrias inteiras, incluindo (evidentemente) as indústrias automóvel e alimentar. Obviamente, quando desaparecer a maioria dos bancos, também desaparecerá o capitalismo e o que restar do aparelho financeiro.
O dinheiro passará a ter pouco ou nenhum valor no futuro, e o comércio será feito via permutas e provavelmente de forma desorganizada. A agricultura tornar-se-á uma grande indústria, juntamente com outras formas de gestão de recursos (exploração mineira, florestas, etc.).
Desordem
Nem vale a pena referir que todas estas transições serão muito provavelmente acompanhadas de desagradáveis níveis de desordem pública. É muito provável que as autoridades lutem para manter a lei e a ordem um pouco por toda a parte. Os governos terão muita dificuldade em resolver os problemas das multidões subitamente empobrecidas. Estas lutas exercerão uma pressão adicional sobre as Relíquias do Petróleo Barato que subsistirem, por exemplo, os serviços municipais e as estradas. Quem é que os vai manter num mundo que deixa de os poder sustentar?
Um dos novos projetos (acima referido) será a agricultura, mas sem as máquinas nem os benefícios da tecnologia do mundo antigo. Provavelmente teremos que dar muita atenção ao solo se quisermos produzir algo de valor e em quantidade significativa. No novo mundo seremos especialmente vulneráveis a doenças e pandemias, e também à alteração climática. Com tantos problemas pela frente, as pessoas vão estrebuchar. As comunidades com artesãos talentosos e habilidosos, que trabalham em conjunto, deviam começar a preparar-se já. A partilha de um objetivo ou fé comum durante este período também beneficiaria esses grupos em relação aos que ficarem desmoralizados e perderem o norte.

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