segunda-feira, 30 de agosto de 2010

AS MENTIRAS DA MÍDIA E OS FATOS


Há 25 mil judeus no Irã. É a maior população judaica no Oriente Médio fora de Israel. Os judeus iranianos não são perseguidos nem sofrem abusos do estado; de fato, estão protegidos sob a constituição iraniana. São livres para praticar sua religião e para votar nas eleições. Não são parados e revistados em checkpoints, não são brutalizados por um exército de ocupação e não estão confinados numa colônia penal densamente povoada (Gaza) onde sejam privados dos meios básicos de subsistência. Os judeus iranianos vivem dignamente e gozam dos benefícios da cidadania.

O presidente iraquiano Mahmoud Ahmadinejad é demonizado pela mídia ocidental. É chamado de anti-semita e de "novo Hitler". Mas se essas alegações fossem verdade, então porque a maioria dos judeus iraquianos votou em Ahmadinejad nas recentes eleições presidenciais? Será possível que a maior parte do que se sabe sobre Ahmadinejad seja baseado apenas em boatos e em propaganda?

Este trecho apareceu num artigo da BBC:
"O gabinete (de Ahmadinejad) fez recentemente uma doação monetária para o Hospital Judaico de Teerã. É um dos quatro únicos hospitais judaicos de caridade no mundo e foi fundado com dinheiro da diáspora judaica – coisa notável no Irã onde mesmo as organizações locais de ajuda têm dificuldade em receber fundos do estrangeiro por medo de serem acusados de agentes estrangeiros".
Quando foi que Hitler alguma vez doou dinheiro para hospitais judeus? A analogia com Hitler é uma tentativa desesperada de lavagem cerebral aos americanos. Nada nos diz sobre quem realmente é Ahmadinejad.

As mentiras sobre Ahmadinejad não são diferentes das mentiras sobre Saddam Hussein ou Hugo Chávez. Os EUA e Israel estão tentando criar uma justificação para outra guerra. É por isso que a mídia credita a Ahmadinejad coisas que ele realmente nunca disse. Ele nunca disse que quer "varrer Israel do mapa". Essa é mais uma ficção. O autor Jonathan Cook explica o que disse realmente o presidente:
"Este mito tem sido interminavelmente reciclado desde que ocorreu um erro de tradução num discurso de Ahmadinejad dois anos atrás. Especialistas em farsi atestaram que o presidente iraniano, longe de ameaçar com a destruição de Israel, estava citando um antigo discurso do Aiatolá Khomeini no qual ele reassegura aos apoiadores da Palestina que "o regime sionista em Jerusalém" iria "desaparecer das páginas do tempo".

Ele não estava ameaçando exterminar judeus ou Israel. Estava comparando a ocupação israelense da Palestina com outros sistemas ilegítimos cujo tempo havia passado, incluindo os xás que outrora governaram o Irã, o apartheid na África do Sul e o império soviético. Não obstante, a tradução errônea sobreviveu e prosperou porque Israel e seus apoiadores a exploraram para seus próprios propósitos de propaganda" ("Israel's Jewish problem in Tehran", Jonathan Cook, The Electronic Intifada)
Ahmadinejad não representa qualquer ameaça para Israel ou para os EUA. Como todos no Oriente Médio, ele quer apenas um alívio da agressão israelense e norte-americana.

Isto é da Wikipedia:
"O Departamento de Estado dos EUA tem alegado discriminação no Irã contra judeus. De acordo com seu estudo, os judeus não podem ocupar posições importantes no governo e estão proibidos de servir nos serviços judiciário e de segurança e de tornar-se diretores de escolas públicas. O estudo diz que cidadão judeus podem obter passaportes e viajar para fora do país, mas a eles são freqüentemente negadas as permissões de múltiplas saídas normalmente concedidas a outros cidadãos. As alegações feitas pelo Departamento de Estado norte-americano foram condenadas pelos judeus iranianos. A Associação de Judeus de Teerã diz numa declaração, "nós judeus iranianos condenamos as declarações do Departamento de Estado dos EUA sobre as minorias religiosas iranianas, anunciamos que estamos totalmente livres para executar nossos deveres religiosos e não sentimos nenhuma restrição para realizar nossos rituais religiosos".
Em quem deveríamos acreditar: nos judeus que realmente vivem no Irã ou nos encrenqueiros do Departamento de Estado norte-americano?

Há seis açougues kosher, 11 sinagogas e diversas escolas hebraicas em Teerã. Nenhum funcionário de Ahmadinejad nem de qualquer outro governo iraniano fez qualquer tentativa de fechar essas instalações. Nunca. Judeus iranianos são livres para viajar (ou mudar-se) para Israel se assim o desejarem. Não estão aprisionados por um exército de ocupação. Não estão privados de alimentos ou remédios. Seus filhos não crescem com doenças mentais originadas do trauma da violência esporádica. Suas famílias não são atingidas por barcos armados atirando enquanto circulam nas praias. Seus apoiadores não são esmagados por escavadeiras ou atingidos na cabeça por balas de borracha. Não são atingidos por gás ou espancados quando fazem demonstrações pacíficas por suas liberdades civis. Seus líderes não são caçados e assassinados premeditadamente.

Roger Cohen escreveu um ensaio bastante cuidadoso sobre este tema para o New York Times. Diz ele:
"Talvez eu seja um pouco tendencioso em relação aos fatos mais do que a palavras, mas digo que a realidade da civilidade iraniana acerca dos judeus nos diz mais sobre o Irã – seu refinamento e cultura – que toda retórica inflamada. Isso pode ser devido a eu ser judeu e ter sido freqüentemente tratado com tanta gentileza no Irã. Ou talvez eu esteja impressionado com a fúria contra Gaza, trombeteada em posters e na TV iraniana, nunca se ter convertido em insultos ou violência contra judeus. Ou talvez seja porque eu esteja convencido de que a caricatura do Irã como "o Mullah Doido" e a comparação de qualquer vínculo com Munich em 1938 – uma posição popular em alguns círculos judaicos norte-americanos – seja incorreta e perigosa". ("What Iran's Jews Say", Roger Cohen, New York Times )
As coisas não são perfeitas para os judeus que vivem no Irã, mas são melhores do que para os palestinos que vivem em Gaza. Muito melhor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

56 ANOS SEM O PRESIDENTE VARGAS


Há 56 anos Getulio Dorneles Vargas estourava seu coração com um tiro de revolver em defesa de seus ideais. Sua Carta Testamente ficou como uma bandeira pouco conhecida do povo brasileiro, seu legado permanecerá para sempre na memória dos brasileiros que sonham com um país soberano e mais igualitário.
Relembremos o belo e profundo texto do documento:

"Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.



Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.



Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.



Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.



E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História." (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

ESCOLAS PARA O CRESCIMENTO DE NOSSA GENTE


Quem diria o Piauí, o segundo Estado mais miserável da nação, só perde do Maranhão, consegue uma reviravolta na educação e colocar 04 escolas no ranking das 25 melhores do país. Isto prova que Brizola e Darcy tinham razão quanto ao turno integral e a valorização do Magistério. Leiam a reportagem:

As quatro escolas da capital piauiense mais bem posicionadas no ranking do Enem são, em ordem, Instituto Dom Barreto (3º lugar), Instituto Antoine Lavoisier de Ensino (13º), Educandário Santa Maria Goretti (19º) e Colégio Lerote (26º). Apesar das 23 posições entre eles, apenas 27,54 pontos os separam nas notas dos alunos no Enem 2009.
O feito das escolas de Teresina só foi repetido pela capital paulista e superado pelo município do Rio de Janeiro, que possui oito escolas entre as 25 primeiras. Proporcionalmente, a conquista de Teresina chama mais a atenção. No Rio, 684 colégios públicos e privados oferecem o ensino médio. Em São Paulo, 1.239. Em Teresina, apenas 168.
A diferença é enorme quando comparada ao Rio ou a São Paulo. Na lista dos que ganharam notas no exame, no Rio de Janeiro, aparecem 444 nomes. Entre os melhores da cidade, a maioria é escola privada, mas há uma federal e uma estadual. Os oito melhores do Rio simbolizam 2% do total das escolas particulares com conceito. Em São Paulo, os quatro melhores do Enem (todos privados) representam 1,4% dos 279 colégios dessa rede com nota.
Cidades com o mesmo porte de Teresina – que possui cerca de 802 mil habitantes e 62 mil alunos no ensino médio – não alcançaram nível educacional parecido com o da capital piauiense ainda. Natal, capital com 806 mil habitantes não possui nenhuma escola entre as 100 melhores. São Bernardo do Campo, que possui 810 mil moradores, por exemplo, tampouco. As duas cidades ainda possuem menos estudantes na etapa: 43 mil e 37 mil.
Receitas nada secretas
O segredo das escolas de Teresina para obter tanto destaque é simples. Primeiro, elas investem em uma carga horária de estudos que impressiona. Das quatro escolas com mais destaque no Enem, em três a jornada diária de aulas supera sete horas. Na outra, é de seis horas e meia. A rotina semanal só termina aos sábados, com aulas regulares e simulados. E tanto esforço não se restringe aos alunos do 3º ano: já começam no ensino fundamental.
Para os alunos, a disputa por melhores notas é saudável. Segundo os estudantes, os colegas de outras escolas serão os concorrentes diretos na busca pelas vagas na universidade. E a disputa, até onde se tem notícia, se restringe ao universo intelectual. Grande parte dos professores dá aulas em mais de uma dessas mesmas escolas, inclusive.
Por fim, o sucesso das escolas de Teresina também pode ser explicado, segundo alunos, professores e diretores, pelo desejo de mudança dos estudantes. Primeiro, vontade de transformar a imagem que o Estado tem no País. “Acho que a gente se esforça também para dar mais visibilidade ao Piauí e mudar a visão que as pessoas têm daqui”, diz Felipe Adriano Bezerra, 17 anos, estudante do Instituto Lavoisier.
A segunda é a mudança física mesmo. Eles buscam as melhores instituições do País. Com a concorrência acirrada, estudam ainda mais. A vontade de sair do Piauí tem explicação. “Queremos buscar a melhor formação para depois podemos voltar e evoluir a condição do Estado”, pondera Marcus Vinícius Gonçalves, 17 anos, aluno do Lavoisier.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Washington procura desestabilizar a Venezuela


(por James Petras)
A política dos EUA para com a Venezuela tem dado muitas voltas tácticas, mas o objetivo é sempre o mesmo: derrubar o Presidente Chavez, inverter a nacionalização dos grandes negócios, abolir a comunidade de massas e os conselhos de trabalhadores e repor o país como um estado-cliente.

Washington financiou a apadrinhou politicamente um golpe militar em 2002, um lock-out de patrões em 2002-2003, um referendo e numerosas tentativas dos meios de comunicação, de políticos e de ONGs para sabotar o regime. Até agora todos os esforços da Casa Branca têm sido um fracasso – Chavez ganhou várias vezes eleições livres, manteve a lealdade das forças armadas e o apoio da grande maioria dos pobres urbanos e rurais, do grosso da classe trabalhadora e da classe média do setor público.

Washington não desistiu nem tentou travar boas relações com o governo eleito do presidente Chavez. Pelo contrário, a cada derrota dos seus colaboradores internos, a Casa Branca virou-se cada vez mais para uma estratégia de 'exterior', montando um poderoso 'cordão militar', que cerca a Venezuela com uma presença militar de grande escala, estendendo-se pela América Central, pelo norte da América do Sul e pelas Caraíbas. A Casa Branca de Obama apoiou um golpe militar nas Honduras, que deitou abaixo o governo democraticamente eleito do Presidente Zelaya (em Junho de 2009), aliado de Chavez, e substituiu-o por um regime fantoche que apoia a política militar anti-Chavez de Washington. O Pentágono assegurou várias bases militares na Colômbia oriental (em 2009), junto à fronteira venezuelana, graças ao dirigente seu cliente, Alvaro Uribe, o conhecido presidente narco-paramilitar. Em meados de 2010 Washington conseguiu um acordo sem precedentes com a aprovação da presidente Laura Chinchilla da Costa Rica, de direita, para posicionar 7 000 tropas de combate americanas, mais de 200 helicópteros e dezenas de navios apontados para a Venezuela, sob o pretexto de perseguir traficantes de droga. Atualmente, os EUA estão a negociar com o regime direitista do presidente Ricardo Martinelli do Panamá a possibilidade de reinstalar uma base militar na antiga Zona do Canal. Juntamente com a Quarta Frota que patrulha ao largo, 20 mil efetivos no Haiti, e uma base aérea em Aruba, Washington cercou a Venezuela do lado oriental e norte, estabelecendo posições favoráveis para uma rápida intervenção direta se surgirem circunstâncias internas favoráveis.

A militarização política da Casa Branca em relação à América Latina, muito em especial a Venezuela, faz parte da sua política global de confronto e intervenção armada. É visível que o regime Obama alargou o âmbito e a extensão das operações dos esquadrões de morte clandestinos que operam atualmente em 70 países de quatro continentes, aumentou a presença de combate dos EUA no Afeganistão com mais 30 mil efetivos para além de mais de 100 mil mercenários contratados que operam através das fronteiras do Paquistão e Irão, e forneceu material e apoio logístico aos terroristas armados iranianos. Obama procedeu a uma escalada de exercícios militares provocadores ao largo da costa da Coréia do Norte e no Mar da China, suscitando protestos de Beijing. Igualmente revelador, o regime Obama aumentou o orçamento militar para mais de um milhão de milhões de dólares, apesar das crises econômicas, do monstruoso défice e dos apelos aos cortes de austeridade nos Serviços de Cuidados de Saúde, Assistência Medicamentosa e Sociais.

Por outras palavras, a atitude militar de Washington para com a América Latina e principalmente para com o governo democrático socialista do Presidente Chavez faz parte duma resposta militar geral a qualquer país ou movimento que recuse submeter-se ao domínio dos EUA. Surge a pergunta – porque é que a Casa Branca porfia na opção militar? Porquê militarizar a política externa para conseguir resultados favoráveis face a uma oposição decidida? A resposta, em parte, é que os EUA perderam grande parte da sua alavanca econômica, que exercia anteriormente, e que garantia o derrube ou a submissão de governos adversários. A maior parte das economias asiáticas e latino-americanas atingiram um certo grau de autonomia. Outras não dependem de organizações financeiras internacionais influenciadas pelos EUA (o FMI, o Banco Mundial); conseguiram empréstimos comerciais. A maioria diversificou os seus parceiros comerciais e investidores e aprofundou laços regionais. Nalguns países, como o Brasil, a Argentina, o Chile e o Peru, a China substituiu os EUA enquanto seu parceiro comercial principal. Muitos países deixaram de procurar a "ajuda" dos EUA para estimular o crescimento, procuram parcerias com empresas multinacionais, frequentemente baseadas fora da América do Norte. Na medida em que o braço de ferro econômico deixou de ser uma ferramenta eficaz para assegurar a obediência, Washington recorreu cada vez mais à opção militar. Na medida em que a elite financeira dos EUA esvaziou o sector industrial do país, Washington tem sido incapaz de reconstruir as suas alavancas econômicas internacionais.

Grandes fracassos diplomáticos, resultantes da sua incapacidade de se adaptar a mudanças básicas no poder global, também obrigaram Washington a afastar-se das negociações políticas e a comprometer-se com a intervenção e confrontação militar. Os políticos americanos continuam cristalizados na época corrupta dos anos 80 e 90, o apogeu dos dirigentes clientes e da pilhagem econômica, quando Washington gozava de apoio global, privatizava empresas, explorava o financiamento da dívida pública e praticamente não tinha rival no mercado mundial. No final dos anos 90, o aumento do capitalismo asiático, as revoltas anti-liberais das massas, o ascendente de regimes de centro-esquerda na América Latina, as repetidas crises financeiras, as quedas das bolsas de ações nos EUA e na União Européia e o aumento dos preços dos bens conduziram a um realinhamento do poder global. As tentativas de Washington para continuar a pôr em prática políticas sintonizadas com as décadas anteriores entraram em conflito com as novas realidades de mercados diversificados, potências recém-emergentes e regimes políticos relativamente independentes ligados a novos eleitorados de massas.

As propostas diplomáticas de Washington para isolar Cuba e a Venezuela foram rejeitadas por todos os países latino-americanos. A tentativa de ressuscitar acordos de comércio livre, que privilegiavam os exportadores americanos e protegiam produtores não competitivos, foi rejeitada. Incapaz de reconhecer os limites do poder diplomático imperialista e moderar as suas propostas, o regime Obama virou-se cada vez mais para a opção militar.

A luta de Washington para reafirmar o poder imperialista, através da política intervencionista não se revelou melhor do que as suas iniciativas diplomáticas. Os golpes apoiados pelos EUA na Venezuela (2002) e na Bolívia (2008) foram derrotados pela mobilização popular de massas e pela lealdade dos militares aos regimes no poder. Do mesmo modo, na Argentina, no Equador e no Brasil, os regimes pós neo-liberais, apoiados pelas elites industriais, mineiras e agro-exportadoras e pelas classes populares, conseguiram derrotar as tradicionais elites neo-liberais pró-EUA, com raízes nas políticas dos anos 90 e anteriores. A política de desestabilização não conseguiu desalojar os novos governos que prosseguiam políticas externas relativamente independentes e se recusaram a voltar à velha ordem da supremacia dos EUA.

Onde Washington conseguiu reconquistar terreno político com a eleição de regimes políticos direitistas – foi através da sua capacidade de explorar o 'desgaste de políticas de centro-direita (Chile), as fraudes políticas e a militarização (Honduras e México), o declínio da esquerda popular nacional (Costa Rica, Panamá e Peru) e a consolidação de um estado policial fortemente militarizado (Colômbia). Estas vitórias eleitorais, especialmente na Colômbia, convenceram Washington que a opção militar, aliada a uma profunda intervenção e exploração de processos eleitorais abertos, é a forma de inverter a viragem para a esquerda na América Latina – principalmente na Venezuela.

Política dos EUA para com a Venezuela: Aliando tácticas militares e eleitorais

As tentativas dos EUA para derrubar o governo democrático do presidente Chavez repetem muitas das tácticas aplicadas contra anteriores adversários democráticos. Incluem incursões pela fronteira de forças militares e paramilitares colombianas, semelhantes aos ataques fronteiriços dos 'contras' apoiados pelos EUA contra o governo sandinista da Nicarágua nos anos 80. A tentativa de cercar e isolar a Venezuela é semelhante à política de Washington durante os últimos cinquenta anos contra Cuba. A canalização de fundos para grupos da oposição, partidos, meios de comunicação e ONGs através de organismos americanos e fundações 'fantoches' é uma repetição das tácticas aplicadas para desestabilizar o governo democrático de Salvador Allende no Chile em 1970-1973, de Evo Morales na Bolívia em 2006-2010 e de inúmeros outros governos na região.

A política de múltiplas frentes de Washington, na sua fase atual, está orientada para a escalada de uma guerra de nervos, através das suas constantes ameaças de segurança. Em parte, as provocações militares são um 'teste' dos preparativos de segurança da Venezuela, experimentando os seus pontos fracos nas defesas terrestres, aéreas e marítimas. Estas provocações também fazem parte de uma estratégia de desgaste, para forçar o governo Chavez a manter em 'alerta' as suas forças de defesa e mobilizar a população e depois reduzir temporariamente a pressão até à provocação seguinte. O objetivo é desacreditar a permanente referência do governo a ameaças, a fim de enfraquecer a vigilância e, quando as circunstâncias o permitirem, poderem fazer um ataque oportuno.
O aparato militar externo de Washington destina-se a intimidar os países das Caraíbas e da América Central que podem tencionar estabelecer relações econômicas mais estreitas com a Venezuela. A exibição de força também se destina a encorajar a oposição interna para ações mais agressivas. Simultaneamente, a atitude de confronto é dirigida aos "elos mais fracos" dos sectores "moderados" do governo de Chavez que se sentem nervosos e anseiam por uma "reconciliação" mesmo que seja ao preço de concessões imorais à oposição e ao novo regime do presidente Santos na Colômbia. A crescente presença militar destina-se a abrandar o processo de radicalização interna e impossibilitar as crescentes ligações da Venezuela com o Médio Oriente e outros regimes, adversos à hegemonia dos EUA. Washington está confiante em que uma exibição militar e uma guerra psicológica, que relacionem a Venezuela com rebeldes revolucionários como a guerrilha colombiana, levará a que os aliados e amigos de Chavez na América Latina se distanciem dele. Igualmente importante, as acusações não fundamentadas de Washington de que a Venezuela está a dar refúgio a campos de guerrilheiros da FARC, destina-se a pressionar Chavez a reduzir o seu apoio a todos os movimentos sociais na região, incluindo os Trabalhadores Rurais Sem-Terra no Brasil, assim como os grupos não-violentos pró direitos humanos e os sindicatos na Colômbia. Washington pretende uma "polarização" militar: ou os EUA ou Chavez. Rejeita a polarização política que existe atualmente e que contrapõe Washington ao MERCOSUL, a organização de integração econômica que engloba o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai, com a Venezuela à beira de se tornar membro da ALBA (integração econômica que engloba a Venezuela, a Bolívia, a Nicarágua, o Equador e diversos estados das Caraíbas).

O fator FARC

Obama e Uribe, agora ex-presidente, acusaram a Venezuela de proporcionar refúgio aos guerrilheiros colombianos (FARC e ELN). Na realidade isto é uma conspiração para pressionar o presidente Chavez a denunciar ou pelo menos a exigir que as FARC desistam da sua luta armada nas condições ditadas pelos EUA e pelo regime colombiano.
Contrariamente à jactância do presidente Uribe e do Departamento de Estado de que as FARC são um fragmento decadente, isolado e derrotado do passado, em consequência das suas sucessivas campanhas de contra-insurreição, um recente e detalhado estudo de campo feito por um investigador colombiano (La guerra contra las FARC y la guerra de las FARC) demonstra que nos últimos dois anos os guerrilheiros consolidaram a sua influência sobre um terço do país, e que o regime em Bogotá controla apenas metade do país. Depois de sofrer importantes derrotas em 2008, as FARC e o ELN avançaram regularmente durante 2009-2010 infligindo mais de 1 300 baixas militares no ano passado e provavelmente quase o dobro este ano (La Jornada, 8/6/2010). O reaparecimento e avanço das FARC tem uma importância crucial, face à campanha militar de Washington contra a Venezuela. Também afeta a posição do seu "aliado estratégico" – o regime de Santos. Primeiro, demonstra que, apesar dos 6 mil milhões de dólares adicionais na ajuda militar dos EUA à Colômbia, a sua campanha anti-insurreição para "exterminar" as FARC foi um fracasso. Segundo, a ofensiva das FARC abre uma "segunda frente" na Colômbia, enfraquecendo qualquer tentativa para desencadear uma invasão da Venezuela utilizando a Colômbia como "trampolim". Terceiro, enfrentando uma crescente luta de classes interna, é mais provável que o novo presidente Santos procure reduzir as tensões com a Venezuela, na esperança de transferir as tropas da fronteira do seu vizinho para a crescente insurreição dos guerrilheiros. Num certo sentido, apesar das preocupações de Chavez quanto aos guerrilheiros e dos apelos abertos para acabar com a guerrilha, o reaparecimento dos movimentos armados são, com toda a probabilidade, um fator importante para reduzir as perspectivas duma intervenção dirigida pelos EUA.

Conclusão

A política de multi-frentes de Washington, destinada a desestabilizar o governo venezuelano tem sido, de longe, contra-producente, sofrendo importantes revezes e poucos êxitos.

A linha dura para com a Venezuela não conseguiu "arregimentar" nenhum apoio nos principais países da América Latina, com exceção da Colômbia. Isolou Washington, não isolou Caracas. As ameaças militares podem ter radicalizado as medidas sócio-econômicas adotadas por Chavez, não as moderaram. As ameaças e acusações saídas da Colômbia reforçaram a coesão interna na Venezuela, excetuando apenas os fanáticos grupos de oposição. Também contribuíram para que a Venezuela melhorasse as suas operações de informações, policiais e militares. As provocações colombianas levaram a uma quebra das relações e a uma redução de 80% no comércio entre fronteiras no valor de muitos milhares de milhões de dólares, levando à falência numerosas empresas colombianas, quando a Venezuela as substituiu por importações industriais e agrícolas do Brasil e da Argentina. Os efeitos das políticas de tensão e da "guerra de desgaste" são difíceis de medir, principalmente em termos do seu impacto sobre as cruciais eleições legislativas que se aproximam, em 26 de Setembro de 2010. Sem dúvida, a incapacidade de a Venezuela regular e controlar o fluxo de muitos milhões de fundos americanos para os seus colaboradores venezuelanos teve um impacto significativo na sua capacidade organizativa. Sem dúvida, os tempos econômicos conturbados tiveram algum efeito na limitação das despesas públicas para os novos programas sociais. Do mesmo modo, a incompetência e a corrupção de vários funcionários de topo de Chavez, principalmente na distribuição de alimentos públicos, na habitação e na segurança social irão ter um impacto eleitoral.

É provável que estes fatores "internos" tenham muito maior influência na modelação do alinhamento dos resultados eleitorais da Venezuela do que a agressiva política de confronto adotada por Washington. Apesar disso, se a oposição pró-EUA aumentar substancialmente a sua presença legislativa nas eleições de 26 de Setembro – para cima de um terço do Congresso do povo – vai ser tentado o bloqueio das mudanças sociais e das políticas de estímulo econômico. Os EUA irão intensificar os seus esforços para pressionar a Venezuela a desviar recursos para questões de segurança, a fim de sabotar as despesas sociais e econômicas que garantem o apoio dos 60% da população venezuelana mais pobre.

Até agora, a política da Casa Branca, baseada numa maior militarização e praticamente sem novas iniciativas econômicas, tem sido um fracasso. Encorajou os maiores países latino-americanos a aumentar a integração regional, conforme testemunham os acordos alfandegários e tarifários adotados na reunião do MERCOSUL no início de Agosto deste ano. Não provocou nenhuma redução de hostilidades entre os EUA e os países da ALBA. Não aumentou a influência dos EUA. Pelo contrário, a América Latina virou-se para uma nova organização política regional, a UNASUL (que exclui os EUA), minimizando a Organização dos Estados Americanos que os EUA utilizam para impor a sua agenda. Ironicamente, a única luz que favorece a influência dos EUA, provém dos processos eleitorais internos. O candidato direitista José Serra está a disputar fortemente a corrida nas próximas eleições presidenciais brasileiras. Na Argentina, no Paraguai e na Bolívia, a direita pró-EUA está a reagrupar-se e tem esperanças de reconquistar o poder.

O que Washington continua a não perceber é que, em todo o espectro político, desde a esquerda ao centro-direita, há líderes políticos chocados e em oposição ao avanço e promoção da opção militar como peça central de política. Praticamente todos os líderes políticos têm recordações desagradáveis de exílio e perseguição do anterior ciclo de regimes militares apoiados pelos EUA. O auto-proclamado alcance extra-territorial dos militares americanos, operando a partir das suas sete bases na Colômbia, alargou a brecha entre os regimes democráticos de centro e centro-esquerda e a Casa Branca de Obama. Por outras palavras, a América Latina encara a agressão militar dos EUA à Venezuela como um "primeiro passo" para sul na direção dos seus países. Esse fato, e o ímpeto para uma maior independência política e mercados mais diversificados, enfraqueceram as tentativas diplomáticas e políticas de Washington para isolar a Venezuela.

O novo presidente Santos da Colômbia, proveniente do mesmo molde direitista do seu antecessor Álvaro Uribe, enfrenta uma escolha difícil – continuar como instrumento da confrontação militar dos EUA e desestabilização da Venezuela à custa de vários milhares de milhões de dólares em prejuízos comerciais e do isolamento do resto da América Latina ou reduzir as tensões fronteiriças e as incursões, abandonando a retórica provocadora e normalizando as relações com a Venezuela. Se acontecer esta última situação, os EUA perderão o seu melhor e último instrumento para a sua estratégia externa de "tensões" e guerra psicológica. Washington ficará com duas opções apenas: uma intervenção militar unilateral direta ou financiar a guerra política através dos seus colaboradores internos.

Entretanto, o presidente Chavez e os seus apoiadores fariam bem em concentrar-se a fim de fazer a economia sair da recessão, travar a corrupção no estado e a sua monumental ineficácia e atribuir à comunidade e aos conselhos com base nas fábricas um papel mais importante em todas as coisas desde o aumento da produtividade à segurança pública. Em último caso, a segurança a longo prazo da Venezuela em relação ao longo e penetrante alcance do Império dos EUA depende da força das organizações de massas que apóiam o governo de Chavez.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

HIROSHIMA, NUNCA MAIS



Há exatamente 65 anos, o Capitalismo inaugura a era do horror atômico; 02 bombas jogadas sobre as cidades de Hiroxima e Nagasaki destroem centenas de milhares de vidas instantaneamente. Até hoje não é possível calcular os danos causados as gerações dos sobreviventes, tanto nas deformações físicas como nas mentais.
O poeta maior de Ipanema não deixou essa triste pagina da história passar em branco; inspirado na flor símbolo do bem querer e com a sensibilidade inerente aos poetas compôs a seguinte poesia:


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PARA TODOS OS PAIS AMADOS OU NÃO: A POESIA DE QUINTANA, QUE OFEREÇO AO MEU AMADO PAI EM MEMÓRIA. QUE SAUDADES!


Não quero alguém que morra de amor por mim…

Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.

Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo,
quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.

Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim…

Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível…

E que esse momento será inesquecível..

Só quero que meu sentimento seja valorizado.

Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre…

E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.

Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém…
e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.

Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras,
alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho…

Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento… e não brinque com ele.

E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.

Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter
forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe…

Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.

Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos,
talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.

Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas…

Que a esperança nunca me pareça um “não” que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como “sim”.

Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder
dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim,
sem ter de me preocupar com terceiros…

Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.

Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão…

Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades e às pessoas,
que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim…
e que valeu a pena.
(Mário Quintana)