quarta-feira, 1 de junho de 2011

CHE GUEVARA CONTINUA INCOMODANDO 43 ANOS DEPOIS DE SUA MORTE


Apesar de não concordar em muitos pontos com a matéria abaixo escrita por Ubirajara Passos, tenho que reconhecer que a matéria é de uma lucidez e inteligência que somente poderia ser escrita por um anarquista.

“Ernesto Guevara de la Serna, o determinadíssimo e incoercível guerrilheiro latino-americano, morria em 8 de outubro de 1967, na selva boliviana, odiado e temido pelo imperialismo americano e pela burguesia transnacional, contra os quais dedicou sua vida, na revolução armada, sem vacilar, até o ponto de ser capturado, fuzilado e sepultado numa cova clandestina e coletiva no coração da América do Sul. O pavor do imperialismo era tão grande, que não podia preservar sequer a identidade do cadáver de seu grande inimigo. E para exorcizar definitivamente o homem que deu a vida em prol da libertação, ainda não alcançada, da humanidade da escravidão assalariada, a mídia burguesa tratou de eternizá-lo na forma de inócuo e inofensivo ícone pop, presente em todas as estampas de tecidos e nos mais diversos badulaques, como chaveiros e canetas - até mesmo em calcinhas e no biquíni usado pela perua Gisele Bündchen em um desfile de moda (o que bastou para escandalizar a redação da filial brasileira do grupo americano Time-Life, a revista “Veja” de 2007).

Sob o título de “Che, a farsa do herói - verdades inconvenientes do guerrilheiro altruísta, quarenta anos depois de sua morte”, a servil e direitosa revista “nacional”, editada no dia 3 de outubro de 2007, se esmera em matéria de capa, que ocupa 10 páginas, em apresentar o Che como um fanático comunista comedor de criancinhas, “assassino cruel e maníaco”, “apologista da violência, voluntarioso e autoritário”, cujo “retrato clássico - feito pelo cubano Alberta Korda em 1960″ “foi parar no biquíni de Gisele Bündchen, no braço de Maradona, na barriga de Mike Tyson, em pôsteres e camisetas”.
Para tanto o periódico, sem mencionar o profundo senso de justiça social, humanidade, e a ingenuidade da dedicação ao “trabalho voluntário” braçal por ele exercido aos domingos, na reconstrução da Cuba espoliada até o estertor pela ditadura de Fulgêncio Batista e pelo domínio norte-americano, enfatiza, devidamente descontextualizado das circunstâncias da guerra de guerrilhas e da revolução, o papel de Che como comandante de frente guerrilheira ou do quartel onde, após a vitória, se levava os ilustres burgueses cubanos (em nome de cujas fortunas e luxuoso e fútil sadismo, milhares de trabalhadores, mulheres e crianças padeciam a própria morte em vida ou morriam um pouco todo dia, de fome, miséria e excesso de trabalho nos canaviais, em verdadeiro regime de escravidão) para o fuzilamento no “paredón”. Que, aliás, apesar de ser pedido aos gritos pelo povo oprimido (e não imposto pela “ditadura comunista de Fidel”), me parece forma muito branda de eliminação dos parasitas exploradores e da peste emocional. Pois um latifundiário ou burguês morto a balas ainda conserva o pescoço, o que é um perigo! Ainda há chance - mesmo remota - de ser “ressuscitado”. Eficientes e espertos mesmo eram os jacobinos de Robespierre, na Revolução Francesa, que usavam a guilhotina, a qual, separando a cabeça do corpo, eliminava toda possibilidade de falha na execução dos “altruístas” nobres da Corte de Versalhes.
No mundo de “Veja” as revoluções se fazem sem sangue… e sem mudanças, é claro. E os puros e educados empresários capitalistas, de punhos brancos e rendados são ótimas, bem-humoradas e afáveis pessoas que não sujam as mãos com o sangue e o suor alheio, portando um fuzil ou uma faca… Isto porque contam com a colaboração de seus lacaios gerentões e contra-mestres, e dos próprios trabalhadores oprimidos e conformados, que vão morrendo aos poucos de cansaço, fome e auto-violentação psicológica todo dia! O crime do lucro e do luxo capitalista, em nome do qual empresários e o próprio Estado (este na guerra predatória e repressora) matam milhões pelo mundo todos os dias é admitido e celebrado pela mídia, na medida em que ocorre de forma surda e “higiênica” nas empresas, ou longe dos olhos “inocentes” de doutores e jornalistas de gabinetes, praticado pela polícia a serviço do regime em becos perdidos, ou abertamente pelos exércitos “humanitários” e defensores da “democracia e dos direitos humanos” no Iraque ou no Haiti, por exemplo. Mas nem por isso George Bush ou Gerdau são qualificados pela mídia de sanguinários e desumanos. E Roosvelt e Churchill (dirigentes dos Estados Unidos e da Inglaterra na Segunda Mundial), responsáveis (ainda bem!) pela morte de milhares de nazistas (e mesmo da população civil não engajada) na Europa são celebrados como heróis, e verdadeiros “santos” laicos pela cultura oficial.
Mas até aí, tudo bem. A caracterização da horrível “violência revolucionária” é uma questão de ponto de vista, admissível e verificável “cientificamente”. O problema é que “Veja” (que no mesmo número celebra “imparcialmente” - às páginas 60 e 61 - a fala do falso socialista, e moderno fascista, Luís Inácio Lula da Silva na ONU, sobre o bio-combustível) para desmistificar e revelar o verdadeiro caráter do Che (”cruel e fanático”), cita justamente entrevistas com imparcialíssimos dissidentes do regime cubano, ex-membros da classe proprietária exilados em Miami e nada mais, nada menos que o agente da CIA Félix Rodríguez (que presenciou a execução do Che).
E a matéria, para coroar sua neutralidade científica e sociológica, se trai da forma mais infantil no discurso anti-comunista, com frases como : “Por suas convicções ideológicas, Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel”, ou “COMUNISMO: Depois da queda do Muro de Berlim, a ideologia será lembrada sobretudo como a responsável pela morte de 100 milhões de pessoas”. E cai no ridículo da desconstrução histórica ao “denunciar” o óbvio e inconteste fato de que, após a execução, os soldados do exército boliviano (que servia a um regime fascista e subserviente ao colonialismo yankee) “limparam Che para a foto” de seu cadáver, que “sujo, vestido de trapos e calçado com o que sobrou de uma botina artesanal de couro”, “usava um calço em um dos calcanhares, provavelmente para corrigir uma diferença de tamanho entre uma perna e outra”.
É bem verdade que Che Guevara não era nenhum “Ghandi” ou uma “madre Teresa de Calcutá”. Foi revolucionário, e como tal usou da violência contra a violência maior do capitalismo. E não tinha o hábito, tão celebrado e confortável à mídia burguesa, de deixar-se prender em protestos públicos, sem reação, para escandalizar e desarmar a polícia imperialista, o que - desde Ghandi - tornou-se uma atitude completamente inofensiva para os agentes da opressão social e política (que, não tendo a “finesse” e “boa educação” dos pobres soldados e policiais britânicos bitolados no moralismo ainda meio vitoriano do início do século XX, hoje em dia dão gargalhadas de semelhante atitude bufa e ingênua). E muito menos era dedicado à mansa “caridade” do assistencialismo social, que, distribuindo migalhas entre os desvalidos, evita sua revolta contra a dominação e mantém convenientemente os privilégios dos nossos “donos”, para desgraça da maioria da humanidade (sob este ponto de vista, Lula devia ser canonizado como a Madre Teresa de Calcutá de barbas da América do Sul).
Como anarquista que sou, admito mesmo que o Che era um tanto filho do “fascismo vermelho”. Mas, entre tantos “defeitos”, possuia uma qualidade que é responsável pela sobrevivência histórica de sua figura, pela tentativa de integração e aculturação de seu mito “demoníaco” (a sombra da personalidade inconsciente dos psicológos junguianos) pela mídia capitalista e pelo incômodo que causa ainda hoje, ao ponto de suscitar a descabelada matéria da “Veja”, tão empenhada em demonizá-lo. E esta qualidade era o profundo ódio à injusta e massacrante opressão dos patrões e seus lacaios (os modernos “senhores de escravos”) sobre a grande maioria da humanidade, e a capacidade de jamais ceder ou desistir em sua luta pela derrocada do capitalismo, a ponto de colocar em risco a própria vida (o que é próprio de todo revolucionário legítimo). Assassino, incompetente, fanático, ou não, Che jamais poderá ser acusado de covardia. Sustentou até o final as conseqüências de seus atos e, se pediu clemência ao inimigo imperialista ao ser capturado (o que a matéria “demistificante” pretende fazer crer, citando o depoimento de um tenente do exército boliviano), fez apenas o que é próprio de todo ser humano diante da morte - e que não o impediu de levar a guerrilha no altiplano até este ponto. Che sabia que, sem apoio dos camponeses locais, traído pelo Partido Comunista Boliviano (fiel ao imperialismo soviético), e sem condições de resistência, cedo ou tarde, seria cercado pelo inimigo. E era mais fácil, ao invés da humilhação da derrota, ter se suicidado.
Mas, na verdade, o supremo “pecado” do ateu totalitário “Ernesto”, que o puritanismo de empréstimo da mídia brasileira pró-yankee não suporta, é conspurcar simbolicamente um dos ícones do falso hedonismo do capitalismo “pós-moderno”. Afinal, a figura do barbudo revolucionário cobrindo a buceta da dondoca modelo está, de certa forma, “estuprando” o “puro” símbolo do prazer burguês, cuja imagem se oferece à ralé para que babe na contemplação da volúpia glamourizada, que só ao explorador é reservada! Ubirajara Passos

2 comentários:

Anônimo disse...

A quem mais temos que recorrer?Acabou o maçarico,tangra e estamos ou melhor dizendo passaremos a estar na merda para o resto da vida!!!!Povo angrense imbecil!!

giovani disse...

Falta mais um ano e meio para Escurraçarmos esse filho da Puta de Desprefeito,secretários, Ccs e todas as cambadas de vereadores apedeutas e lorpas do poder.Graças a Deus !!!!!