sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

LÍBIA PARA O POVO, NÃO PARA O IMPÉRIO



De todas as revoltas que neste momento ocorrem no Norte de África e no Oriente Médio, a mais difícil de se analisar é a da Líbia.

Qual é o caráter e o objetivo da oposição ao regime Kadafi, que começa a controlar a rica cidade de Bengazi, no Leste do país?

Será apenas coincidência que a rebelião tenha começado em Bengazi, a qual é a base dos mais ricos campos de petróleo da Líbia bem como próxima da maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, refinarias e o seu porto de gás natural liquefeito (GNL)? Haverá um plano de dividir o país?

Qual é a chance de intervenção militar imperialista dos EUA e seus aliado, pondo em perigo todo o povo da região?

A Líbia não é como o Egito. Seu líder, Moamar Kadafi, não tem sido um fantoche imperialista como Hosni Mubarak. Durante muitos anos, Kadafi esteve aliado a países e movimentos que combatiam o imperialismo americano. Ao tomar o poder em 1969 através de um golpe militar, ele nacionalizou o petróleo da Líbia e utilizou grande parte do dinheiro para desenvolver a economia líbia. As condições de vida do povo melhoraram radicalmente.

Por isso, os países imperialistas estavam determinados destruir a Líbia. Os EUA em 1986 lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi que mataram 60 pessoas, incluindo a filha ainda criança de Kadaf, o que raramente é mencionado pela mídia gorda. Foram impostas sanções devastadoras tanto pelos EUA como pela ONU a fim de destruir a economia líbia.

Depois de os EUA invadirem o Iraque em 2003 e arrasaram grande parte de Bagda com uma campanha militar de terra arrasada que o Pentágono sinicamente chamou "pavor e choque", Kadafi tentou evitar a ameaça de outra agressão à Líbia fazendo grandes concessões políticas e econômicas ao imperialismo. Ele abriu a economia a bancos e corporações estrangeiras; concordou com exigências do FMI quanto ao "ajustamento estrutural", privatizando muitas empresas estatais e cortando subsídios do estado a necessidades como alimentos e combustível.

O povo líbio está sofrendo com preços elevados e desemprego que estão na base das rebeliões em outros lados e que decorre da crise econômica capitalista mundial.

Não há dúvida de que a luta que varre o mundo árabe pela liberdade política e a justiça econômica também tocou um ponto sensível na Líbia. Não há dúvida de que o descontentamento com o regime Kadafi está motivando uma parte significativa da população.

Contudo, é importante para os progressistas saber que muitas das pessoas que estão promovendo no Ocidente como líderes da oposição, são agentes recrutados pela CIA. A BBC mostrou em 22 de Fevereiro filmes de populares derrubando a bandeira verde da república e substituindo-a pela bandeira do antigo rei Idris – que foi um fantoche dos EUA e do imperialismo britânico.

A mídia ocidental utiliza grande parte das suas noticias sobre supostos fatos fornecidos pelo grupo exilado Frente Nacional para a Salvação da Líbia (National Front for the Salvation of Libya), a qual foi treinada e financiada pela CIA. Pesquise no Google o nome da frente mais CIA e encontrará centenas de referências.

O Wall Street Journal de 23 de Fevereiro escreveu em editorial que "Os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubarem o regime Kadafi". Não há qualquer conversar nas salas das administrações ou nos corredores de Washington sobre a intervenção para ajudar o povo do Kuwait ou da Arábia Saudita ou do Bahrain a derrubarem seus governantes ditatoriais. Mesmo com todos os falsos elogios às lutas de massas que agora sacodem a região, isso seria impensável. Em relação ao Egito e à Tunísia, os EUA estão movendo todas as alavancas que podem para tirar as massas das ruas.

Tão pouco houve qualquer conversa de intervenção dos EUA para ajudar o povo palestino de Gaza quando milhares morreram em guetos com os judeus em Varsóvia na Segunda Grande Guerra, bombardeados e invadidos por Israel. Exatamente o oposto. Os EUA intervieram para impedir a condenação do estado colonizador sionista de Israel.

O interesse do imperialismo na Líbia não é difícil de descobrir. Em 22 de Fevereiro a Bloomberg. com escreveu: se bem que a Líbia seja o terceiro maior produtor de petróleo da África, é o país do continente que tem as maiores reservas provadas — 44,3 mil milhões de barris. É um país com uma população relativamente pequena, mas com potencial para produzir enormes lucros para as companhias de petróleo gigantes. É assim que os super ricos a encaram e o que está por trás da sua propagada preocupação com os direitos democráticos do povo da Líbia.

Obterem concessões de Kadafi não é suficiente para os barões imperialistas do petróleo. Eles querem um governo sob a sua dominação total, tudo do bom e do melhor. Eles nunca esqueceram Kadafi por derrubar a monarquia e nacionalizar o petróleo. Fidel Castro, em Cuba, na sua coluna "Reflexões" registra o apetite do imperialismo por petróleo e adverte que os EUA estão lançando as bases para a intervenção militar na Líbia.

Nos EUA, algumas forças tentam mobilizar uma campanha de rua promovendo uma mal fadada intervenção americana. Devemos nos opor a tudo isto e recordar a qualquer pessoa bem intencionada os milhões de mortos e deslocados pela intervenção dos EUA no Iraque.

As pessoas progressistas, anti-imperialista e socialistas têm simpatia com o que encaram como um movimento popular na Líbia. Podemos ajudar tal movimento principalmente pelo apoio às suas exigências justas, mas rejeitando uma intervenção imperialista, seja qual for a forma que assuma. É o povo da Líbia que deve decidir o seu futuro.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

FASCISTAS, REACIONÁRIOS E MENTIRAS



Condenado num processo cheio de nulidades, e até falsificações de procuração, que ocasionou à sua revelia, o escritor de esquerda italiano Cesare Battisti se tornou alvo do ódio da direita mundial e passou a vida sendo perseguido pelo Estado italiano e, nos últimos anos, pelo judiciário brasileiro. Conheça os detalhes do caso Battisti na bela narrativa de Débora Prado.

Amplamente divulgado na grande mídia de diversos países, o debate acerca da extradição de Cesare Battisti se tornou tema de discussão no Brasil e na comunidade internacional. O Estado e a justiça italiana, o judiciário brasileiro, a extrema direita e os reacionários de plantão se empenham na campanha pela entrega dele ao sistema penitenciário italiano para que permaneça encarcerado até o fim de sua vida. No Brasil, a propaganda contra o escritor e ex-militante de extrema esquerda também é intensa e, apesar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter decidido negar sua extradição no último dia de mandato, Battisti continua preso, ilegalmente, e vai passar por novo julgamento no Supremo Tribunal Federal.
Condenado durante processo que correu à sua revelia por quatro assassinatos cometidos na década de 1970, o que pouca gente sabe é que Battisti já havia passado por um julgamento na Itália. Neste primeiro julgamento, sentenciado em 1981, foi condenado a 13 anos e alguns meses de prisão por suas atividades militantes, ou ‘crime de subversão’ e por porte de armas. Não houve, no entanto, qualquer condenação ou sequer citação dos quatros assassinatos que lhe são atribuídos hoje em dia. Quase ninguém diz ainda que seu segundo julgamento na Itália está permeado de contradições, assim como o relatório do STF brasileiro, de autoria do Ministro Cezar Peluso.
Na verdade, a condenação a prisão perpétua - reivindicada agora pelo governo italiano para justificar a extradição – só aconteceu no segundo processo, de 1988, baseado numa prática chamada ‘delação premiada’. “Durante o primeiro processo, houve muitas torturas, são 13 casos declarados. Mas, mesmo sob a tortura, ninguém nunca pronunciou o nome de Battisti” explica Fred Vargas, historiadora, arqueóloga e escritora francesa, complementando: “Em troca das acusações no segundo processo, outros presos ganharam consideráveis reduções na pena. Nenhum dos arrependidos e dissociados teve prisão perpétua, o único membro do grupo com essa condenação foi o ausente: Battisti”.
Em suas pesquisas sobre o caso, ela constatou ainda que as procurações supostamente assinadas por Battisti para os advogados que o representaram no segundo processo são falsas. “Ele foi representado falsamente durante os onze anos do processo. Isso já seria suficiente para anular sua condenação” diz. Com tanta sujeira embaixo do tapete, fica evidente que os motivos para a condenação de Battisti são muito mais políticos do que de fato judiciais.
Dalmo de Abreu Dallari, jurista e professor emérito da USP (Universidade de São Paulo), explica que se fossem considerados apenas os aspectos legais, Battisti já deveria estar em liberdade. “A prisão de uma pessoa cuja extradição o foi pedida tem caráter preventivo, visando garantir a execução da decisão do Chefe do Executivo, caso este decida favoravelmente ao pedido. A partir do momento em que o Presidente decidiu não conceder a extradição, já não havia motivos para manter Cesare Battisti preso, não havendo qualquer fundamento legal para essa tremenda restrição de seus direitos fundamentais, avalia o jurista, concluindo: “Assim, não há dúvida de que a motivação não foi jurídica, mas influenciada por outras determinantes”.
Para Carlos Alberto Lungarzo, professor titular da Unicamp aposentado e militante da Anistia Internacional (AI), é totalmente impossível que Battisti tenha cometido algum assassinato e, além de injustiçado, sua extradição pode representar uma sentença de morte. “Se ele voltar à Itália e ficar vivo durante um tempo seria um milagre. O sentimento de rancor contra ele já existia antes, mas a agitação do caso na França e no Brasil está deixando em evidência a enorme corrupção da justiça italiana e a falta de seriedade e dos políticos” afirma.
O professor conta que a perseguição tomou tamanha proporção que uma região da Itália está proibindo os livros de centenas de escritores que assinaram um manifesto pela não extradição de Battisti. “É necessário entender um ponto sensível da cultura italiana, pelo menos nos últimos dois séculos: o sentimento de vingança muito generalizado. O Tribunal precisava dar uma satisfação aos parentes e ter um culpado universal. Claro que também há interesses políticos fortes: ameaçar a pouca esquerda que resta na Itália, mas que vai crescendo, fazer o papel de vítima no cenário europeu e por aí vai” diz.
Os estudiosos do caso apontam mais de uma justificativa para a perseguição de Battisti. Para Lungarzo, é simplista dizer que Berlusconi quer ocultar seu fracasso político e seus escândalos sexuais, uma vez que a campanha contra o escritor aumentou a medida que seus livros críticos ficaram mais conhecidos.
“Inicialmente, tudo indica que os magistrados italianos carregaram todos os assassinatos em Battisti, porque ele estava longe e não poderia se defender. Ele foi apenas um bode expiatório. Quando ele voltou à França, em 1990, a Itália tentou extraditá-lo - ‘por que não mais um?’. Mas, a extradição foi recusada e não se fez nenhum alvoroço. Então surgiu a verdadeira razão: Battisti se tornou um escritor de sucesso, com 15 livros publicados antes de vir ao Brasil. Suas histórias sobre perseguição, exílio e fascismo são romances lidos por pessoas que nunca leriam um livro de história. Há uma prova que eu acho muito clara disso: em quase todas as mensagens e comentários de ódio de leitores de jornais que se publicam na Itália sempre se fala que ele é um ‘afrancesado’, um rebelde, um homem que pinta uma imagem horrível da Itália, que não é católico, e coisas assim. Isso é muito duro para um país onde domina a Máfia, o fascismo e a Igreja” avalia Lungarzo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

OS INDIFERENTES


Louvemos os ativistas militantes de todos os gêneros, e, odiemos os indiferentes, por todas as razões abaixo descritas por ANTÔNIO GRAMSCI.

“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos. O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar. A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há fatos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida coletiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos homens não se preocupa com isso. Mas os fatos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou ativo e quem foi indiferente. Estes então zangam-se, queriam eximir-se às conseqüências, quereriam que se visse que não deram o seu aval, que não são responsáveis. Alguns choramingam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou poucos põem esta questão: se eu tivesse também cumprido o meu dever, se tivesse procurado fazer valer a minha vontade, o meu parecer, teria sucedido o que sucedeu? Mas nenhum ou poucos atribuem à sua indiferença, ao seu cepticismo, ao fato de não ter dado o seu braço e a sua atividade àqueles grupos de cidadãos que, precisamente para evitarem esse mal combatiam (com o propósito) de procurar o tal bem (que) pretendiam.
A maior parte deles, porém, perante fatos consumados prefere falar de insucessos ideais, de programas definitivamente desmoronados e de outras brincadeiras semelhantes. Recomeçam assim a falta de qualquer responsabilidade. E não por não verem claramente as coisas, e, por vezes, não serem capazes de perspectivar excelentes soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, embora requerendo uma ampla preparação e tempo, são todavia igualmente urgentes. Mas essas soluções são belissimamente infecundas; mas esse contributo para a vida coletiva não é animado por qualquer luz moral; é produto da curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticismos e indiferenças de nenhum gênero.
Odeio os indiferentes também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço contas a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe quotidianamente, do que fizeram e sobretudo do que não fizeram. E sinto que posso ser inexorável, que não devo desperdiçar a minha compaixão, que não posso repartir com eles as minhas lágrimas. Sou militante, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura que estamos a construir. Nessa cidade, a cadeia social não pesará sobre um número reduzido, qualquer coisa que aconteça nela não será devido ao acaso, à fatalidade, mas sim à inteligência dos cidadãos. Ninguém estará à janela a olhar enquanto um pequeno grupo se sacrifica, se imola no sacrifício. E não haverá quem esteja à janela emboscado, e que pretenda usufruir do pouco bem que a atividade de um pequeno grupo tenta realizar e afogue a sua desilusão vituperando o sacrificado, porque não conseguiu o seu intento.
Vivo, sou militante. Por isso odeio quem não toma partido, odeio os indiferentes.”

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REVOLUÇÃO POPULAR EM MARCHA


A reação da mídia gorda ocidental aos levantes no Egito e na Tunísia demonstra hipocrisia e cinismo. A hipocrisia dos capitalistas ocidentais é de causar indignação: os escribas da mídia, publicamente defendem a democracia, mas, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e da justiça, não em nome da religião como a mídia tentam nos convencer, eles estão todos profundamente preocupados. Por que a aflição dos donos do capital, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente (para a revolução)".
O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas da Tunísia e do Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática com a plena participação popular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos donos do poder no Ocidente - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo; a realidade felizmente mostra que as leis da história também rege o mundo islâmico.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O POETA E O REVOLUCIONÁRIO


“E a minha voz nascerá de novo,
talvez noutro tempo sem dores,
sem os fios impuros que emendaram
negras vegetações ao meu canto,
e nas alturas arderá de novo
o meu coração ardente e estrelado.”
(In Canto Geral)



O maior poeta do século XX é também o mais querido de Che Guevara, em seu caderno de poemas que trazia consigo no momento em que foi capturado e assassinado pela CIA estava o poema de Neruda acima.
Pablo Neruda, além das paixões que nutria pelo sexo oposto, nutria também o amor incondicional pela humanidade, um amor universal.

A atuação política de Neruda despertou em 1936, quando participou, com o poeta Federico García Lorca, da Guerra Civil Espanhola. A morte de Lorca e a luta contra o franquismo fez com que escrevesse Espanha no coração. Em 1950, publicou Canto Geral, no México, uma das suas obras mais importantes.

Em 1971, Neruda ganhou o Nobel de Literatura. Morreu dois anos depois, 12 dias após o golpe de Pinochet, e seu cortejo foi um grande ato contra a ditadura.

Apesar de jamais ter se distanciado do PC, o poeta não se enquadrava no realismo socialista. Tampouco na literatura dos poderosos. No livro Confesso que vivi, explica que “a burguesia exige uma poesia cada vez mais isolada da realidade. O poeta que sabe chamar o pão de pão e o vinho de vinho é perigoso para o capitalismo”.

COMBATE À CORRUPÇÃO


Comecei a ler o livro intitulado “O combate à corrupção – nas prefeituras do Brasil”. Este livro me foi dado por amigo de faculdade de direito, idealista corajoso que está, como eu e muitos outros, preocupado com o destino de nossa Angra dos Reis.
A obra é uma publicação da AMARRIBO – Amigos Associados de Ribeirão Bonito – São Paulo, através da Ateliê Editorial, cuja participação são de Antonio Marmo Trevisan, Antonio Chizzotti, João Alberto Ianhez, José Chizzotti e Josmar Verilo, todos, membros da associação do município de Ribeirão Bonito, Estado de São Paulo.
Gostaria muito que todos os cidadãos de bem de Angra e do Brasil lessem esta obra. Pequena, mas com um conteúdo enorme de informações que mostram as formas de como os corruptos agem dentro das prefeituras do Brasil, desviando dinheiro público em benefício próprio. Com linguagem simples, o livro mostra ainda as diversas formas usadas por quadrilhas especializadas em desvio de dinheiro público e suas técnicas para ludibriar os órgãos fiscalizadores e a população.
A AMARRIBO foi criada para acompanhar as ações do município paulista de Ribeirão Bonito, onde o prefeito e alguns membros de sua equipe praticavam atos suspeitos de desvio de dinheiro público. A AMARRIBO liderou o movimento culminando com a renúncia do prefeito e sua fuga, sendo preso mais tarde. Entretanto, tudo só foi possível com o apoio indispensável da comunidade. Eis alguns sintomas e práticas das administrações corruptas e suas artimanhas para lograr êxito:

1 – O Padrão Típico de Corrupção.
Quando um corrupto é eleito, ao invés de procurar cumprir suas promessas de campanha em benefício da população, ele emprega amigos e parentes, para favorecer aqueles que colaboraram com suas campanhas ou para privilegiar alguns comerciantes “amigos” em detrimento de outros. Grande parte do orçamento do município é orientada em proveito do restrito grupo que assume o poder e passa a se beneficiar do orçamento da cidade.
Uma estratégia utilizada habitualmente em desvio de recursos públicos se dá por meio de notas fiscais fictícias ou “frias”, que são aquelas nas quais os serviços declarados não são prestados ou os produtos discriminados não são entregues. A burla pode ser feita com as chamadas empresas-fantasmas, ou seja, que inexistem física ou juridicamente. Mas os fraudadores também utilizam empresas legalmente constituídas e com funcionamento normal. Com o conluio de administradores públicos cúmplices do “esquema”, tais empresas vendem ao município produtos e serviços superfaturados, ou recebem, contra a apresentação de notas que discriminam serviços não executados e produtos não entregues. Esses esquemas são postos em prática mediante acordo preestabelecido com o prefeito e ou/ seus assessores. Quando é necessário uma licitação, montam todo os procedimentos de forma a dirigir o certame para uma empresa “amiga”, dificultando ou impedindo a participação de outras. Depois dá recibo de entrega da mercadoria, empenha a despesa e emite o cheque para o pagamento. Posteriormente, o montante é dividido entre o fornecedor e os membros da administração comprometidos com o esquema de corrupção.
Em geral, os recursos obtidos dessa maneira chegam ao prefeito e aos participantes do esquema na forma de dinheiro vivo, a fim de não restar vestígios da falcatrua.
Existem quadrilhas especializadas em fraudar prefeituras com a participação do poder público municipal. Esses grupos e seus especialistas são formados localmente, ou trazidos de fora, já com experiência em gestão fraudulenta. O objetivo é implantar ou administrar procedimentos ilícitos, montar concorrências viciadas e acobertar ilegalidades.
O método mais usual consiste em forjar a participação de três concorrentes, usando documentos falsos de empresas legalmente constituídas. Outra maneira é incluir na licitação, apenas formalmente, algumas empresas que apresentam preços superiores, combinados de antemão, para que uma delas saia vencedora.
Um sinal que pode indicar ato criminoso é o que acontece com o fornecimento de alimentos para a merenda escolar. Muitas vezes, os produtos que chegam não seguem nenhuma programação e muito menos qualquer lógica nutricional. Nem as merendeiras sabem, em alguns casos, o que será servido aos alunos. A escolha dos produtos que serão entregues às escolas é, na realidade, feita pelos fornecedores, e não pelos funcionários.

2 – Sinais de Irregularidades na Administração Municipal.
Apesar de não determinarem necessariamente a existência de corrupção, a presença de alguns fatos deve estimular uma atenção especial da população. Entre eles estão:
 Histórico comprometedor da autoridade eleita e de seus auxiliares;
 Falta de transparência nos atos administrativos do governante;
 Ausência de controles administrativos e financeiros;
 Apoio de grupos suspeitos de práticas de crimes e irregularidades;
 Subserviência do Legislativo (Câmara Municipal) e dos Conselhos Municipais (de Saúde, de Educação e outros);
 Baixo nível de capacitação técnica dos colaboradores e ausência de treinamento de funcionários públicos;
 Alheamento da comunidade (não participa e nem é convidada a participar) ao processo orçamentário.
Notem, que estes sintomas estão todos presentes na administração dos “JORDÕES”.

3 – Sinais Exteriores de Riqueza.
Alguns sinais para se detectar a prática de corrupção municipal que não requer uma análise e investigação mais profunda, basta a simples OBSERVAÇÃO.
Um dos sintomas mais perceptíveis é quando grupo de amigos e parentes das autoridades municipais exibem bens de alto valor, adquiridos de uma hora para outra, como carros e imóveis, e também na ostentação, por meio de gastos pessoais incompatíveis com suas rendas, como viagens, festas, patrocínios, dentre outras coisas.
Alguns passam a ter uma vida social intensa, frequentando locais de lazer que antes não frequentavam, como bares e restaurantes, onde realizam grandes despesas.
“Os corruptos assumem feições diversas. Há o do tipo grosseiro e despudorado (sem vergonha), que se compraz em fazer demonstração ostensivas de poder e riqueza, exibindo publicamente acesso a recursos extravagantes. Geralmente, não se preocupa em ser discreto, pois necessita alardear o seu sucesso econômico e sua nova condição, mesmo quando os que estão à sua volta possam perceber que o dinheiro exibido não tem procedência legítima. Com esse tipo de corrupto, a apropriação de recursos públicos é associada a um desejo incontrolável de ascender socialmente e de exibir essa ascensão. Como não encontra maneira de enriquecer honestamente (trabalhando), recorre a atos ilícitos (ilegais).

Já o fraudador discreto tem forma de agir que tornam mais difícil a descoberta do ilícito. O dinheiro é subtraído discretamente, por meio de esquemas bem articulados com os fraudadores, o que torna a sua descoberta mais difícil. O resultado dos golpes é aplicado longe do domicílio (em outras cidades). Em geral, utilizam-se de “laranjas” (pessoas que, voluntária ou involuntariamente, emprestam suas identidades para encobrir os autores das fraudes), adquirem bens móveis ou semoventes (animais): dólar, ouro, papéis do mercado de capitais, gado, commodities etc.” (pág. 33).

Independentemente dos tipos de corrupção praticados, os cidadãos que desejarem um governo eficiente e transparente devem ficar atentos aos sinais que o governo emite. Um administrador sério e bem intencionado escolhe como assessores, pessoas representativas e que tenham boa reputação e capacidade administrativa.

Prefeitos corruptos opõem – se veementemente a qualquer forma de transparência.

Evitam que a Câmara Municipal fiscalize os gastos da prefeitura e buscam comprometer os vereadores com esquemas fraudulentos. Ao mesmo tempo, não admitem que dados contábeis e outras informações da administração pública (folha de pagamento, por exemplo) sejam entregues a organizações independentes e aos cidadãos, nem que estes tenham acesso ao que se passa no Executivo.

“Todo cidadão tem direito à informação. Os prefeitos corruptos tentam driblar esse direito dificultando o acesso à informação. Vereadores honestos (Heraldo Santos – ex-vereador de Maués-AM.) tentam (tentou por várias vezes) obter as informações via requerimentos à Câmara Municipal. Rejeições a esses pedidos de informação, pelos vereadores ligados ao prefeito, são sintomas de fraudes”.

Portanto, é imperativa a PARTICIPAÇÃO de toda a comunidade (cidadãos honestos) na fiscalização do emprego do dinheiro público para que o mesmo possa beneficiar o coletivo, e não um grupo restrito de cleptocrata que deve ser condenados a penal capital em plena praça pública, seus bens serem confiscados e a sua família pagar a munição e o carrasco que deve ser remunerado pelo salutar trabalho de executar esses ratos imundos da sociedade.