quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Mais uma razão para a direita odiar a ciência


Os ultraconservadores esperavam que os estudos do genoma humano revelassem que é a genética, e não a ordem social burguesa desigual, que determina quem vai desde o nascimento se tornar doente e pobre. Mas os nossos genes têm-se recusado a cooperar com os utópicos da pré-determinação genética.
O notável psicólogo Oliver James observou em seus estudos que a desigualdade afeta o que pensamos e planejamos para o futuro, com base em investigação de quanto e como a desigualdade reflete o que pode influenciar nossos genes.

Oliver James escreveu muito ao longo dos últimos anos sobre o que ele denomina "ansiedade pela riqueza" ("affluenza"), o "vírus" induzido pela desigualdade que nos conduz a um nível de desejo cada vez maior pelo dinheiro, posses e fama.


Segundo James, a affluenza varia amplamente na sociedade. Quanto mais desigual for a distribuição de renda e riqueza numa sociedade, mais affluenza e mais elevada a incidência de doenças mentais que a affluenza causa.
Os apologistas de ordens sociais burguesa, naturalmente, contestaram qualquer ligação entre doenças mentais e o ambiente econômico e social. Que pessoas de baixo rendimento sofram depressão a níveis duplos das pessoas de alto rendimento, acreditam estes defensores do sistema capitalista, sugerem apenas que pessoas pobres nasceram neste mundo com mais "deficiências pessoais" do que as ricas.
"A direita política acredita que os genes explicam amplamente porque os pobres são pobres, assim como terem uma probabilidade dupla de serem mentalmente doentes", como observa James. "Para elas, os pobres são lama genética, afundada na base do charco genético".

A prova científica destes estudos, clamava a direita uma década atrás, viria quando "avanços rápidos na genética e na neurociência" – o projeto genoma humano e toda a investigação em torno dele — revelasse a verdadeira "história da natureza humana".

A investigação do genoma humano, como opinou dez anos atrás o cientista político Charles Murray junto à organização de extrema-direita American Enterprise Institute, "está em vias de contrair e abalar o espaço para certas posições políticas".

"Estou prevendo que os provérbios da direita geralmente demonstrar-se-ão mais próximos do alvo do que os provérbios da esquerda", escreveu Murray, "e que muitas das causas da esquerda revelar-se-ão incompatíveis com o modo como os seres humanos são programados (wired) ".
Com mais completa informação genética em mãos, Murray contestou: "verificou-se que a população abaixo da linha de pobreza nos Estados Unidos tem uma configuração de constituição (makeup) genética relevante que é significativamente diferente da configuração da população acima da linha de pobreza".

De fato, como observa Oliver James numa nova análise, as coisas não se apresentaram deste modo de forma alguma. A "extensa investigação do genoma" desde o ano 2000 não revelou qualquer "constituição genética" que predisponha algumas pessoas para o "êxito" e a riqueza e outras para a doença e a pobreza.

"Agora sabemos", comenta James, "que os genes desempenham um pequeno papel na razão para um irmão, uma classe social ou um grupo étnico ter mais probabilidade de sofre de problemas de saúde mental do que outro".
O Journal of Child Psychology and Psychiatry apresentou exatamente o mesmo ponto de vista em editorial no inicio de 2010. A ciência séria, declara o editorial, agora concentra-se mais do que nunca "sobre o poder do ambiente" e "todos exceto os deterministas genéticos mais teimosos tiveram de rever o seu ponto de vista".
"Os fatores biológicos não existem num vácuo, hermeticamente selados de fatores sociais e ambientais", acrescentou na semana passada o bioético Daniel Godlberg, da Carolina do Norte, num comentário sobre a nova análise de Oliver James. "Assim, mesmo a tentativa de separar o biológico e o social não faz o mínimo sentido".

Assim, o que faremos com o nosso novo entendimento da genética? Como podemos construir sobre o que agora sabemos a fim de ajudar a moldar sociedades mais saudáveis? James sugeri uma sequência de três passos.

Primeiro, diz o psicólogo, vamos "criar uma sociedade na qual o máximo de oportunidade para uma vida mentalmente saudável e realizada seja mais importante do que enriquecer uma minúscula minoria".
Segundo, vamos "colocar o atendimento das necessidades das crianças, especialmente as mais jovens, à frente de todas as outras prioridades".
E, terceiro, vamos cultivar as condições sócio-econômicas que maximizem a saúde mental. James explica: "Isto significa criar maior igualdade econômica, condições de trabalho mais seguras, maior flexibilidade de emprego para pais de crianças pequenas e uma semana de 35 horas".

Não temos, reconhece James, "a mínima possibilidade de que isto aconteça até que os políticos entendam o que a ciência está nos dizendo”.

Os cientistas podem está nos dando respaldo para o fortalecimento do socialismo. E nós marxistas precisamos ouvir mais atentamente o que a ciência nos ensina.

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