quinta-feira, 18 de agosto de 2011

"O capitalismo pode auto destruir-se"


por Nouriel Roubini
WSJ: Assim, você pintou um quadro negro de crescimento econômico abaixo do padrão daqui para a frente, com um risco acrescido de uma outra recessão no futuro próximo. Isso soa terrível. O que o governo e os negócios podem fazer para conseguir que a economia avance outra vez? Ou é só sentar e esperar?

Roubini: Os negócios não estão a fazer coisa alguma. Eles não estão realmente a ajudar. Todo este risco torna-os mais nervosos. Há um valor em expectativa. Eles afirmam que estão a fazer cortes porque há excesso de capacidade e não contratam trabalhadores porque não há suficiente procura final, mas há aqui um paradoxo, uma [situação] Catch-22 [NR]. Se não se contrata trabalhadores, não há suficiente rendimento do trabalho, nem suficiente confiança do consumidor, nem suficiente consumo, nem suficiente procura final. Nos últimos dois ou três anos tivemos realmente uma piora porque tivemos uma redistribuição maciça do rendimento do trabalho para o capital, dos salários para os lucros, a desigualdade do rendimento aumentou e a propensão marginal para gastar de uma família é maior do que a propensão marginal de uma firma porque eles têm uma maior propensão para poupar, quer dizer as firmas em comparação com as famílias. Assim, a redistribuição de rendimento e riqueza torna ainda pior o problema da procura agregada insuficiente.

Karl Marx estava certo. Em algum ponto, o capitalismo pode destruir-se a si próprio. Não se pode manter a transferir rendimento do trabalho para o capital sem ter um excesso de capacidade e uma falta de procura agregada. Foi o que aconteceu. Pensamos que os mercados funcionavam. Eles não estão a funcionar. O indivíduo pode ser racional. A firma, para sobreviver e prosperar, pode empurrar os custos do trabalho cada vez mais para baixo, mas os custos do trabalho são o rendimento e o consumo de alguém. Eis porque se trata de um processo auto-destrutivo.
15/Agosto/2011
[NR] Catch-22: Situação em que não há solução para um problema (exemplo: preciso dos meus óculos para encontrar os meus óculos). A expressão tem origem no romance "Catch-22", de Joseph Heller

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