sexta-feira, 20 de abril de 2012

CARTA ABERTA A CONCEIÇÃO RABHA


Conceição, finalmente te digo o que bem entendo, livre que sou de qualquer compromisso com organismo político ideológico, familiar ou econômico.
Malgrado minha falta de verve, falo por mim, você é uma pessoa a quem se pode dizer qualquer coisa sem ser mal interpretado, já que possui uma inteligência acima da média.
Desde o início da nossa convivência, quando ainda era aluno adolescente secundarista e você uma bela e jovem mulher que lecionava biologia, percebi que ali diante daquela louça negra e fria havia um ser diferente: não era apenas um professor transmitivista que via o aluno como uma mera caixa de depósito de conhecimento (pedagogia “bancária” imposta pelo opressor - na visão de Paulo Freire), era uma pessoa que fazia com seu carisma e beleza jovial o aluno pensar no universo em que habitava.
Medularmente, querida professora, você não mudou nada. Continua sendo a mesma pessoa humanista detectada nos meus primeiros olhares; mesmo nascendo em uma família que em sua grande maioria é fisiologista, soube manter, entender e por em prática o caráter altivo e soberano de sua saudosa mãe.
Meu gosto pela política me fez ver em você uma grande esperança de mudança na vida pública angrense, que nos últimos 12 anos se transformou em um feudo corrupto e tirano.
A vida me ensinou que como qualquer pessoa da vida pública brasileira, você não está livre das manobras políticas e das pressões do poder. Contudo, confio plenamente no seu poder de detectar as maçãs podres de sua roda política.
Mas, armadilhas existem e sempre cairemos nelas. Sei que não partiu de você a estúpida idéia de enviar uma “assessora política” em meu leito na UPG (Unidade de Pacientes Graves) onde me encontrava recuperando de um atentado a faca desferido por um degenerado mentalmente pelo vício de décadas de consumo de entorpecente pesado, me chamar de alcoólatra.
Confesso que a ofensa me doeu mais do que as 10 facadas que dilaceraram quase todos os músculos das minhas pernas que usei para me defender. Ali, diante daquela cama tenebrosa de hospital, aquela figura pigméia tão bem retratada por Jonathan Swiff em seu clássico, desprovida de qualquer senso crítico, movida pelo senso comum me ofendendo sem sequer ouvir minha versão dos fatos.
Certamente, querida mestra, não são esses os assessores que podem ser seus embaixadores e colaboradores.
Não sou candidato a nada, não almejo cargo ou qualquer tipo de poder, somente faço política porque acredito na redenção do povo pelo povo. Acredito que somente uma participação intensa da população poderá nos levar a democracia tão desejada.
E o caminho momentâneo em Angra é uma mulher, uma grande mulher – CONCEIÇÃO RABHA.
Quero participar junto com o povo da sua campanha para desmascarar, não só os teus algozes que estarão nas trincheiras opostas, mas também, os que estão nas suas trincheiras por puro oportunismo!

terça-feira, 17 de abril de 2012

DIA 18 DE ABRIL NASCIMENTO DE MONTEIRO LOBATO É O DIA NACIONAL DO LIVRO INFANTIL


Monteiro Lobato foi para muitos, como eu, o maior incentivador da leitura. Seus livros, escritos para crianças, eram o encantamento de um mundo mágico que nunca saíram de nossas memórias. Porem, ele foi muito mais do que um genial autor de histórias infantis; foi um humanista que transcendeu nossa condição de homens e nunca escondeu sua visão marxista.
Eis as freses de sua autoria que mais gosto:

“Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.”

“Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.”

“Seja você mesmo, porque ou somos nós mesmos, ou não somos coisa nenhuma.”

“A natureza criou o tapete sem fim que recobre a terra. Dentro da pelagem deste tapete vivem todos os animais respeitosamente.
Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem.”

"A consciência do homem comum mora no bolso, eis tudo."

“Nada de imitar seja lá quem for. Temos de ser nós mesmos. Ser núcleo de cometa, não cauda. Puxar fila, não seguir.”

terça-feira, 10 de abril de 2012

RESGATE DA HISTÓRIA


Por Vladimir Safatle, na Folha de S. Paulo

Aqueles que hoje desafiam a mudez do esquecimento e dizem, em voz alta, onde moram os que entraram pelos escaninhos da ditadura brasileira para torturar, estuprar, assassinar, sequestrar e ocultar cadáveres honram o país.
Quando a ditadura extorquiu uma anistia votada em um Congresso submisso e prenhe de senadores biônicos, ela logo afirmou que se tratava do resultado de um “amplo debate nacional”. Tentava, com isto, esconder que o resultado da votação da Lei da Anistia fora só 206 votos favoráveis (todos da Arena) e 201 contrários (do MDB). Ou seja, os números demonstravam uma peculiar concepção de “debate” no qual o vencedor não negocia, mas simplesmente impõe.
Depois desse engodo, os torturadores acreditaram poder dormir em paz, sem o risco de acordar com os gritos indignados da execração pública e da vergonha. Eles criaram um “vocabulário da desmobilização”, que sempre era pronunciado quando exigências de justiça voltavam a se fazer ouvir.
“Revanchismo”, “luta contra a ameaça comunista”, “guerra contra terroristas” foram palavras repetidas por 30 anos na esperança de que a geração pós-ditadura matasse mais uma vez aqueles que morreram lutando contra o totalitarismo. Matasse com as mãos pesadas do esquecimento.
Mas eis que estes que nasceram depois do fim da ditadura agora vão às ruas para nomear os que tentaram esconder seus crimes na sombra tranquila do anonimato.

Ao recusar o pacto de silêncio e dizer onde moram e trabalham os antigos agentes da ditadura, eles deixam um recado claro. Trata-se de dizer que tais indivíduos podem até escapar do Poder Judiciário, o que não é muito difícil em um país que mostrou, na semana passada, como até quem abusa sexualmente de crianças de 12 anos não é punido. No entanto eles não escaparão do desprezo público.
Esses jovens que apontam o dedo para os agentes da ditadura, dizendo seus nomes nas ruas, honram o país por mostrar de onde vem a verdadeira justiça. Ela não vem de um Executivo tíbio, de um Judiciário cínico e de um Legislativo com cheiro de mercado persa. Ela vem dos que dizem que nada nos fará perdoar aqueles que nem sequer tiveram a dignidade de pedir perdão.
Se o futuro que nos vendem é este em que torturadores andam tranquilamente nas ruas e generais cospem impunemente na história ao chamar seus crimes de “revolução”, então tenhamos a coragem de dizer que esse futuro não é para nós.
Este país não é o nosso país, mas apenas uma monstruosidade que logo receberá o desprezo do resto do mundo. Neste momento, quem honra o verdadeiro Brasil é essa minoria que diz não ao esquecimento. Essa minoria numérica é nossa maioria moral.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

UMA VERDADEIRA PRESTES



por Anita Leocádia Prestes
Rio de Janeiro, 4 de abril de 2012

Exmo. Sr. Senador Inácio Arruda.

Senado Federal – Brasília

Na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e de sua colaboradora política durante mais de trinta anos, devo declarar minha repulsa e indignação com a proposta de sua autoria de que seja declarada nula a decisão do Senado que cassou, em 1948, o mandato do senador Luiz Carlos Prestes. Meu pai jamais aceitaria semelhante medida individualmente, isolada, sem que as centenas de parlamentares comunistas cassados (deputados federais, deputados estaduais e vereadores) juntamente com ele tivessem também devolvidos seus legítimos direitos constitucionais. Todos que o conheceram sabem o quanto Prestes, nesse sentido, era intransigente.

Na realidade, a proposta encaminhada ao Senado Federal por um representante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) revela, mais uma vez, algo que Prestes denunciou incessantemente durante os seus últimos dez anos vida: o reformismo desse partido, sua adesão aos interesses das classes dominantes do País, seu compromisso espúrio com o Governo Sarney, nos anos 1980, compromisso confirmado no texto da mensagem ora encaminhada à apreciação do Senado. Luiz Carlos Prestes sempre deixou claro que a legalidade dos comunistas deveria ser conquistada nas ruas, pelo povo, e não através de conchavos de bastidores, como aconteceu, no caso do PCdoB, em 1985. Prestes também não aceitaria a anulação da cassação do seu mandato de senador através de manobra do PCdoB, cujo objetivo evidente é tirar proveito político do inegável prestígio do Cavaleiro da Esperança.

Atenciosamente,

Anita Leocadia Prestes


Nota do PCB:
O Comitê Central do PCB se associa à justa indignação da professora Anita Leocádia Prestes, diante de nova tentativa oportunista do PcdoB de sequestrar a história do PCB, usando despudoradamente o prestígio nacional e internacional de Luiz Carlos Prestes que, para nossa honra, foi durante décadas o Secretário Geral do PCB e o protagonista principal da divergência que deu causa à fundação do PcdoB, em fevereiro de 1962.