segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O FIM DO IMPÉRIO YANK


O GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin) previu que o ano de 2011 como o ano da derrocada do dólar como a moeda hegemônica do planeta. Segundo o GEAB, 2011 será para o capilaismo atual como 1989 (queda do Muro de Berlim) foi para o bloco soviético; leiam a analise do GEAB e tirem suas conclusões:


por GEAB
Este número 51 do GEAB assinala o quinto aniversário da publicação do Global Europe Anticipation Bulletin. Ora, em Janeiro de 2006, por ocasião do GEAB Nº 1 , a equipa de LEAP/E2020 indicava nessa altura que se iniciava um período de quatro a sete anos que seria caracterizado pela "Queda do Muro do Dólar", fenômeno análogo ao da queda do Muro de Berlim que, nos anos subseqüentes, levou ao desmantelamento do bloco comunista e a seguir da URSS. Hoje, neste GEAB Nº 51 que apresenta as nossas trinta e duas previsões para o ano de 2011, calculamos que o próximo ano será um ano charneira neste processo que se estende pois de 2010 a 2013. De qualquer modo, será um ano impiedoso, porque vai marcar a entrada na fase terminal do mundo anterior à crise.

A partir de Setembro de 2008, altura em que a evidência da natureza global e sistêmica da crise se impôs a toda a gente, os Estados Unidos e, por detrás deles, os países ocidentais contentaram-se com medidas paliativas que apenas serviram para mascarar os efeitos de sapa da crise nos alicerces do sistema internacional contemporâneo. 2011 vai, de acordo com a nossa equipa, assinalar o momento crucial em que, por um lado, essas medidas paliativas vão ver desaparecer o seu efeito anestesiante enquanto que, pelo contrário, vão surgir em primeiro plano com toda a brutalidade as conseqüências da deslocação sistêmica destes últimos anos.

Em resumo, 2011 vai ser marcado por uma série de choques violentos que vão fazer explodir as falsas proteções instituídas desde 2008 e que vão deitar abaixo, um após outro, os "pilares" sobre os quais assenta desde há decênios o "Muro do Dólar". Só os países, as coletividades, as organizações e os indivíduos que, de há três anos a esta parte, trataram realmente de tirar lições da crise em curso para se afastar o mais depressa possível dos modelos, valores e comportamentos anteriores à crise, atravessarão incólumes este ano; os outros vão enfileirar no cortejo de dificuldades monetárias, financeiras, econômicas, sociais e políticas que o ano de 2011 nos reserva.

Portanto, como consideramos que 2011 será globalmente o ano mais caótico desde 2006, data do início dos nossos trabalhos sobre a crise, a nossa equipa concentrou-se neste GEAB Nº 51 sobre as 32 previsões para o ano de 2011, que incluem igualmente uma série de recomendações para fazer face aos choques futuros. É pois uma carta de previsão dos choques financeiros, monetários, políticos, econômicos e sociais dos próximos doze meses que este número do GEAB oferece.

A nossa equipa considera que 2011 será o ano mais difícil desde 2006, data do início do nosso trabalho de previsão da crise sistêmica, porque esta se encontra na encruzilhada dos três caminhos do caos mundial. Na ausência de um tratamento de fundo para as causas da crise, desde 2008 que o mundo apenas tem recuado para saltar melhor.

Um sistema internacional exangue

O primeiro caminho que a crise pode tomar para gerar um caos mundial, é muito simplesmente um choque violento e imprevisível. O estado de decrepitude do sistema internacional está neste momento tão avançado que a sua coesão está à mercê de qualquer catástrofe de monta. Basta ver a incapacidade da comunidade internacional para ajudar eficazmente o Haiti ao fim de um ano, dos Estados Unidos para reconstruir Nova Orleães desde há seis anos, da ONU para resolver os problemas de Darfour e da Costa do Marfim desde há uma década, dos Estados Unidos para fazer avançar a paz no Próximo Oriente, da NATO para vencer os talibãs no Afeganistão, do Conselho de Segurança para dominar as questões coreana e iraniana, do ocidente para estabilizar o Líbano, do G20 par pôr fim à crise mundial, quer financeira, alimentar, econômica, social, monetária… para constatarmos que no conjunto tanto da paleta das catástrofes climáticas e humanitárias, como na das crises econômicas e sociais, o sistema internacional se encontra atualmente impotente.

Com efeito, pelo menos a partir dos meados dos anos 2000, o conjunto dos grandes atores mundiais, em cuja primeira fila se encontram, claro, os Estados Unidos e o seu cortejo de países ocidentais, só age através da comunicação e da gesticulação. Na realidade, nada mais funciona: a esfera da crise gira e todos sustêm a respiração para que ela não caia na sua casa. Mas, progressivamente, a multiplicação dos riscos e dos temas de crise transformaram a roleta do cassino numa roleta russa. Para o LEAP/E2020, o mundo inteiro começa a jogar a roleta russa, ou melhor, a sua versão de 2011, "a roleta americana", com cinco balas no tambor.

A subida em espiral dos preços das matérias-primas (alimentares, energéticas …) vai fazer-nos lembrar 2008. Foi com efeito no semestre anterior ao colapso do Lehman Brothers e da Wall Street que se situou o episódio precedente de pronunciadas subidas dos preços das matérias-primas. E as atuais causas são da mesma natureza que as dessa altura: uma fuga para fora dos ativos financeiros e monetários a favor das colocações "concretas". Nessa altura os grandes operadores fugiram dos créditos hipotecários e de tudo o que deles dependia assim como do dólar americano; hoje fogem do conjunto dos valores financeiros e dos títulos do Tesouro e de outras dívidas públicas. É pois de esperar, entre a primavera de 2011 e o Outono de 2011, uma explosão da bolha quádrupla dos títulos do Tesouro, das dívidas públicas, dos balancetes bancários e do imobiliário (americano, chinês, britânico, espanhol,… e do comercial; tudo isto a desenrolar-se com o pano de fundo duma guerra monetária exacerbada.

A inflação induzida pelos Quantitative Easing americano, britânico e japonês e as medidas de estímulo dos mesmos, dos europeus e dos chineses, vai ser um dos fatores desestabilizadores de 2011. Voltaremos a isto com maior pormenor neste GEAB Nº 51. Mas o que já é evidente no que se refere ao que se passa na Tunísia, é que este contexto mundial, nomeadamente a subida dos preços dos gêneros alimentícios e da energia, desemboca daqui para a frente em choques sociais e políticos radicais. A outra realidade que o caso tunisino revela, é a impotência dos "padrinhos" franceses, italianos ou americanos para impedir o colapso de um "regime amigo".

Impotência dos principais atores geopolíticos mundiais

E esta impotência dos principais atores geopolíticos mundiais é o outro caminho que a crise pode utilizar para gerar um caos mundial em 2011. Com efeito, podemos classificar as principais potências do G20 em dois grupos cujo único ponto em comum é que não conseguem influenciar os acontecimentos de modo decisivo.

De um lado temos o Ocidente moribundo com os Estados Unidos, por um lado, onde o ano de 2011 vai demonstrar que a liderança não passa duma ficção (ver neste GEAB Nº 51) e que tentam cristalizar todo o sistema internacional na sua configuração do início dos anos 2000; e depois temos a Eurolândia, "soberana" em gestação que está atualmente concentrada sobretudo na adaptação ao seu novo ambiente e ao seu novo estatuto de entidade geopolítica emergente e que portanto não tem nem a energia nem a visão necessárias para ter peso nos acontecimentos mundiais.

E do outro lado, encontramos os BRIC (em especial a China e a Rússia) que se mostram incapazes neste momento de assumir o controlo de todo ou parte do sistema internacional e cuja única acção se limita pois a minar discretamente o que resta dos alicerces da ordem anterior à crise.

No final das contas, é pois a impotência que se generaliza ao nível da comunidade internacional, reforçando não só o risco de choques importantes, mas igualmente a importância das conseqüências desses choques. O mundo de 2008 foi apanhado de surpresa pelo choque violento da crise, mas paradoxalmente o sistema internacional estava mais bem equipado para reagir porque estava organizado em volta de um líder incontestado. Em 2011, isso já não acontece: não só já não há um líder incontestado, mas o sistema está exangue como se viu anteriormente. E a situação ainda se agravou mais pelo fato de as sociedades de um grande número de países do planeta estarem à beira da rotura sócio-econômica.

Sociedades à beira da rotura sócio-econômica

É em especial o caso nos Estados Unidos e na Europa onde três anos de crise começam a ter um forte peso na balança sócio-econômica, e portanto política. Os lares americanos atualmente insolventes em dezenas de milhões oscilam entre a pobreza sofrida e a raiva anti-sistema. Os cidadãos europeus, encurralados entre o desemprego e o desmantelamento do Estado-providência, começam a recusar-se a pagar as facturas das crises financeiras e orçamentais e tratam de procurar os culpados (a banca, o euro, os partidos políticos dos governos…).

Mas, também no seio das potências emergentes, a transição violenta que a crise constitui conduz as sociedades para situações de rotura: na China, a necessidade de controlar as bolhas financeiras em desenvolvimento choca com o desejo de enriquecimento de sectores inteiros da sociedade e com a necessidade de emprego para dezenas de milhões de trabalhadores precários; na Rússia, a fraqueza do tecido social tem dificuldade em aceitar o enriquecimento das elites, tal como na Argélia agitada por motins. Na Turquia, no Brasil, na Índia, por toda a parte, a transição rápida que esses países experimentam desencadeia motins, protestos, atentados. Por razões perfeitamente antinômicas, para umas o desenvolvimento, para outras o empobrecimento, um pouco por toda a parte no planeta, as nossas diferentes sociedades entram em 2011 num contexto de fortes tensões, de roturas sócio-econômicas que as transformam em barris de pólvora políticos.

É a sua posição na encruzilhada destes três caminhos que torna pois 2011 um ano impiedoso. E impiedoso será para os Estados (e para as coletividades locais) que optaram por não aprender as difíceis lições dos três anos de crise que precederam e/ou que se contentaram com mudanças cosméticas que não modificaram em nada os seus desequilíbrios fundamentais. Sê-lo-á também para as empresas (e para os Estados que acreditaram que a melhoria de 2010 era sinal dum regresso "à normalidade" da economia mundial. E finalmente sê-lo-á para os investidores que não compreenderam que os valores de ontem (títulos, moedas…) não podiam ser os de amanhã (pelo menos por mais anos). A História geralmente é uma "boa rapariga". Freqüentemente dá um tiro de aviso antes de varrer o passado. Desta vez deu o tiro de aviso em 2008. Prevemos que em 2011 dará o golpe final. Só os atores que tentaram, mesmo com dificuldades, mesmo parcialmente, adaptar-se às novas condições geradas pela crise se poderão agüentar; quanto aos outros, o caos espera-os no fim do caminho.

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